Pedra Furada -, Parque Nacional Serra da Capivara (Foto: André Pessoa).

O final da madrugada estava fria para os padrões da Caatinga, com temperaturas abaixo dos 14 graus, mas bastou os primeiros raios solares iluminarem o complexo geológico do Baixão das Andorinhas, na última sexta-feira (5) junho de 2020, para esquentar a temperatura e abrir as celebrações pelo aniversário de 41 anos da criação do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Localizado na região Sudeste do estado, com 125 mil hectares, abrangendo áreas em 4 municípios, Coronel José Dias, João Costa, Brejo do Piauí e São Raimundo Nonato, a unidade de conservação é conhecida mundialmente pela arte rupestre, descobertas arqueológicas e imensa vida selvagem entre paisagens espetaculares na seca ou no inverno. Além do seu povo, é claro. O interessante sertanejo!

Hoje, a reserva federal é o principal atrativo turístico do Piauí, disputando a hegemonia dos visitantes com o litoral e o Delta do Parnaíba. A Serra da Capivara, no entanto, apresenta uma série de diferenciais, mas um deles, em específico, se destaca: as praias estão espalhadas de Norte a Sul, já as pinturas rupestres do parque piauiense são únicas no planeta, declaradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

E foi exatamente a enorme importância desses grafismos milenares, pintados com variados tons e, na maior parte dos casos, em grutas, abrigos e saliências rochosas, que deram tamanha fama ao parque. Mas para que tudo não passasse apenas de sonho, foi necessário que uma jovem pesquisadora paulista trocasse a sua confortável vida em Paris para morar num dos lugares mais desestruturados do país na época, década de 1980. Essa mulher, que agora em 2020 completa 50 anos da primeira vez que tocou no solo piauiense, é a arqueóloga Niéde Guidon (87), mais de 4 décadas totalmente dedicadas ao conhecimento da região.

O Parque Nacional da Serra da Capivara chega aos 41 anos com o amplo reconhecimento nacional e, em alguns casos, até internacional. Conta com mais de 300 quilômetros de estradas internas, uma centena de sítios arqueológicos preparados para visitação, sendo 32 deles acessíveis para portadores de necessidades especiais, além de Centro de Visitantes, guaritas de serviço e de atendimento ao turista, sinalização, vigilância, etc. Um tamanho diferencial em se tratando de parques nacionais.

Na zona de entorno da Serra da Capivara a Fundação Museu do Homem Americano, uma ONG científica, sem fins lucrativos, de interesse social, criada e mantida pela equipe de Guidon para coordenar as pesquisas na área, mantém dois museus super interessantes. O Museu do Homem Americano, totalmente dedicado as descobertas arqueológicas na região: da pré-história à chegada dos primeiros colonizadores. E o magnífico Museu da Natureza, um dos mais modernos do Brasil que conta a saga da natureza desde o início da vida, passando pelas eras geológicas até desvendar as diferentes formas biológicas que ocupam o parque atualmente.

Niéde Guidon completa 50 anos da sua primeira pegada no solo piauiense, e o seu primeiro filho, o Parque Nacional Serra da Capivara já chega a maturidade com 41 anos. Imaginem quantos presentes Niéde nos deu nesse anos todos?  Nunca ninguém fez essa conta, mas a história fará.

Agora, nos resta, no mínimo, reconhecer o seu trabalho e manter totalmente íntegro e intocado todo esse patrimônio natural e cultural que ela escavou camada por camada para nos mostrar o caminho do desenvolvimento sustentável em nome das próximas gerações.

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