O governador do Piauí, Wellington Dias, concedeu entrevista ao UOL, onde ele afirma que a aliança do PT com Ciro Gomes não está “100% descartada”, como havia declarado o pré-candidato ao governo de São Paulo, Luiz Marinho.

“O Ciro Gomes é do nosso campo e por essa razão é um nome a ser tratado”, afirmou Wellington em entrevista publicada na madrugada deste sábado (12).

Apesar de não descartar o nome de Ciro Gomes, Wellington afirmou que a estratégia do PT continua sendo a de manter o nome de Lula como pré-candidato à presidência. Segundo o governador, não apresentar o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, seria uma “traição”.

Wellington Dias, que era um dos principais interlocutores do ex-presidente antes de ele ser preso, afirmou que a decisão de sair ou não candidato só depende de Lula.

“Neste caso, apenas o presidente Lula pode mudar isso [ser pré-candidato]. Ninguém mais. A direção do partido concordou com essa tese e ele também. Se o PT toma uma outra posição, como isso vai ser visto pelo presidente e pelo povo? Nós estaríamos o traindo”, afirmou o governador do Piauí.

Wellington Dias que já foi vereador de Teresina, deputado estadual e senador, está finalizando seu terceiro mandato à frente do Governo do Piauí e tenta a reeleição.

Veja a entrevista do jornalista Leandro Prazeres, do site Uolna íntegra:

UOL – O que a saída de Joaquim Barbosa (PSB) da disputa presidencial muda na estratégia do PT?

Wellington Dias – Sinceramente, nada. Nós temos uma ideia de um campo político. Na minha opinião, esse campo político, que tem o ex-presidente Lula como principal expoente, tem também o Ciro Gomes, a Manuela [D’Ávila], o [Guilherme] Boulos e, eu diria, o [Joaquim] Barbosa por ter vindo ao PSB, que é parte desse campo.

Nesse contexto, a desistência de Joaquim Barbosa enfraquece esse campo?

Não, porque o PSB haverá de encontrar alternativas. Veja que ele já tinha outras alternativas antes de ser posto o nome de Joaquim Barbosa.

O PT está preparado hoje para um cenário de eleição sem o presidente Lula?

Do ponto de vista do PT, é natural, normalíssimo, que na fase em que estamos, pré-eleitoral, os partidos tenham um nome. O nome inconteste do PT, dentro do PT e abraçado por líderes de outros partidos, é o do Lula. O que que claramente o partido tem firmeza e acho isso positivo: não há prova, portanto não há crime, portanto não compreendemos o amparo legal da prisão do ex-presidente.

Enquanto tiver a opção de provar sua inocência, você não pode estar encarcerado como fizeram com o presidente Lula. Por isso a tese de que ele é um preso político e por essa razão, coerentemente, [Lula] é o nome que será apresentado quando do registro das candidaturas.

Neste caso, apenas o presidente Lula pode mudar isso. Ninguém mais. A direção do partido concordou com essa tese e ele também. Se o PT toma uma outra posição, como isso vai ser visto pelo presidente e pelo povo? Nós estaríamos o traindo. E isso não é recomendável dentro da política. Temos alternativas internas se precisar e temos um campo político.

Evitar discutir um cenário sem Lula publicamente, distante do eleitor, é a melhor estratégia para o PT?

É a melhor estratégia para o Brasil. Que partido tendo um líder que tem entre 30% ou 35% das intenções de voto nesta fase do ano eleitoral joga isso na lata do lixo? Seria uma irresponsabilidade. Você tem ideia da falta que faz um líder como Luiz Inácio Lula da Silva neste instante no planeta? Qual é o líder que vai coordenar para se contrapor às posições do presidente [Donald] Trump, por exemplo? Ou para harmonizar com as [posições] do presidente da China, da Índia, da Rússia?

Mas o senhor acha que Lula, preso, condenado em primeira e segunda instâncias teria essa mesma capacidade e reputação internacional hoje?

Dizendo desta forma, parece que não. Mas, se a gente olhar o contrário, cadê a prova de que o apartamento que seria o objeto da corrupção é do Lula? Onde está esse documento? Eu quero um. Uma prova só. Cadê o documento, um só, de que o sítio de Atibaia é do Lula? Cadê um centavo que acharam na conta do presidente Lula ou de seus familiares no Brasil ou em outros países? Por isso ele continua respeitado.

Esses são elementos bastante caros à defesa do ex-presidente Lula, mas o senhor acha que isso é relevante hoje fora do país?

É que o julgamento ainda não terminou. O mundo está atento a isso. Você acha que tantos líderes de Portugal, do Chile, da Alemanha, dos Estados Unidos, que são ou já foram presidentes, primeiros-ministros, gente do Parlamento, empresários, pessoas das áreas do direitos humanos… Você acha que está todo mundo maluco de apresentar o nome de um homem que está na cadeia, que é tudo isso que dizem dele aqui, para receber esse prêmio [o Nobel da Paz] em 2018? Será que está todo mundo “bambambam”, como se diz no meu interior?

Não é pacífico o que aconteceu até agora. E o melhor, há condições de alteração. Ainda há recursos a serem apreciados.

O senhor acha que é possível que a esquerda tenha um candidato único já no primeiro turno?

Nós vamos, por volta de junho ou julho, nos sentar e tomar uma decisão. Certamente, a primeira pessoa, do ponto de vista do PT, que será ouvida para dar a palavra final é o ex-presidente Lula. Mas vamos manter um diálogo.

Mesmo com ele candidato a presidente, a estratégia que estava trabalhada era que o Ciro Gomes pudesse ser candidato, a Manuela, o Boulos, a Luciana Genro, sei lá… qualquer um pudesse ser candidato. Isso porque a meta era levar a eleição para o segundo turno. Ou, se a eleição tomar outra dimensão, alguém ganhar no primeiro turno, que seja do nosso campo. Vamos pensar no Brasil antes de tomar essa decisão.

Essa estratégia de pulverizar candidaturas de esquerda para levar a disputa para o segundo turno está mantida?

Duas coisas estão mantidas. Primeira: o PT mantém o nome de Lula como pré-candidato a presidente. Segunda: estamos dialogando. Porque no Brasil o cenário é interessante. Toda essa crise política levou a uma situação esquisita. O partido tem uma definição, mas essa não é a realidade nos estados. Se formos pensar apenas na candidatura do ex-presidente Lula…lá em cada estado a posição de líderes de diferentes partidos é diferente do comando partidário.

Uma aliança com Ciro Gomes é possível ou não?

Primeiro, acho que está correta a estratégia do PT de que o nome é o nome de Luiz Inácio Lula da Silva. Está correto que vamos até a convenção. Eu, pessoalmente, defendo que, na conjuntura da convenção, nós vamos ter que tomar decisões.

Se o partido diz sim, se o presidente Lula diz sim, vai ter que ser registrado o nome dele. O que nós podemos colocar? Vamos ter que ter uma decisão técnica que é a seguinte: há um prazo para registro e prazo para substituições após o registro de candidatura. Se ocorrer a cassação do registro de candidatura [de Lula], vamos ter que ter uma alternativa. O nome que a gente tem dos que já foram citados é o nome do Fernando Haddad. Em tese, ou o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad ou um outro nome, o partido tem alternativas.

E eu reconheço o ex-ministro Ciro Gomes como do nosso campo, um líder que tem a maior preferência de votos, um líder que tem preparo, foi governador e foi ministro. Convivi com ele nessa condição de ser um bom executivo, tem um bom programa de alternativas e saídas para o Brasil.

É claro que, no momento das decisões, essa também será uma alternativa a ser analisada. Mas acho que, do que eu conheço o meu partido, do que eu conheço a realidade, a minha posição, que é a de manter a candidatura do presidente Lula até 15 de agosto, vai prevalecer.

Hoje, o ex-prefeito Haddad tem menos intenções de voto que o ex-ministro Ciro Gomes. O PT estaria preparado para ser vice numa chapa com Ciro Gomes?

Vamos para o mundo real. Uma coisa é ex-ministro Fernando Haddad numa situação em que ele não é candidato. O candidato do PT é Lula.

Tente imaginar um cenário em que o PT decide pela candidatura própria tendo Haddad como opção. É uma opção do Brasil inteiro. Estamos falando de mais ou menos 2 milhões de militantes, com mais 15% a 20% de simpatizantes em todo o país. Estamos falando de um partido que tem quase 20% da preferência dos eleitores no Brasil mesmo com todas essas baterias que são descarregadas em cima dele. Que partido resistiria?

Esse conjunto de líderes espalhado em cada município, em cada comunidade faz uma diferença enorme. Agora, soma isso a uma palavra do líder Luiz Inácio Lula da Silva dizendo: “Ó, moçada… brasileiros e brasileiras, a saída é essa aqui”.

O pré-candidato ao governo de São Paulo, Luiz Marinho, disse que uma aliança com Ciro Gomes está descartada. O senhor acha que não?

Não. Eu não trabalho com essa tese e nem o partido tem essa decisão. Eu trabalho com a posição do PT e o PT tem uma decisão tomada: registrar em 15 de agosto a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva como nosso candidato a presidente. Se tivermos uma situação em que seja cassado o registro e não seja possível, nós vamos tomar uma decisão.

Eu, pessoalmente, advogo que nós vamos trabalhar com duas alternativas. Alternativa um: candidatura própria. Imagino eu que, nesse instante, o nome mais natural é o do ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad. A alternativa 2 é apoio a um nome de um outro partido e, pessoalmente, entendo que o PDT é do nosso campo, o Ciro Gomes é do nosso campo. E por essa razão é um nome a ser tratado. Assim como Manuela D’Ávila, outros nomes do nosso campo.

No seu estado, sua candidatura à reeleição deverá ter o apoio do PP, presidido pelo senador Ciro Nogueira. O senhor foi um dos principais defensores da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) durante o processo de impeachment e o PP de Ciro Nogueira votou, majoritariamente, pelo afastamento dela. Como explicar ao eleitor que o senhor foi contra o impeachment, mas está aliado ao presidente de um partido que votou pelo afastamento dela?

Eu fui eleito junto com PP. Minha vice é do PP. Fazemos um mandato em que assumimos o ônus e bônus da governança. E foi uma posição que não tomei sozinho. Eu creio que nós temos que pensar naquilo que é importante para a população.

Mas não há contradição nessa aliança na medida em que o senhor foi um dos principais defensores da presidente Dilma, mas é aliado do presidente nacional de um partido que deixou a base da ex-presidente Dilma às vésperas da votação do impeachment?

Esse mesmo líder [Ciro Nogueira] declarou cerca de dois anos atrás que o candidato dele à Presidência é o Lula. Digo isso pra você entender que nem ele se fixou com base naquela votação [impeachment], e eu também não. Teve a votação? Teve. A votação passou.

Então é preciso virar a página do impeachment?

Tem que virar a página. De forma muito tranquila. Em primeiro lugar, tenho que pensar na minha responsabilidade com o meu estado.

Ciro Nogueira também é alvo de investigação da Operação Lava Jato. Há até uma testemunha de crimes atribuídos a ele que está sob proteção policial. Como explicar essa aliança num contexto em que a maior parte da população brasileira se coloca a favor do combate à corrupção?

Como é que eu vou explicar à população que eu defendo o artigo 5º da Constituição Federal, a presunção da inocência para o Lula e outros líderes como José Genoino, mas ajo de forma diferente quando a pessoa é de outro partido? Qual é o fato? O fato é que [a investigação] ainda está numa fase de denúncia. Qual é a minha posição sempre? Primeiro: não prejulgar. Tem acusação? Tem. As acusações são graves? São. Mas ele vai ter que ter o direito de apresentar a sua defesa. Vamos aguardar o que sua defesa vai dizer.

Durante muitos anos o Piauí foi o estado mais pobre do Brasil. Essa situação mudou, mas o estado ainda tem o terceiro IDH [Índice de Desenvolvimento Humano, que alinha dados educacionais e sociais para avaliar as condições de vida da população] do Brasil. O senhor está concluindo seu terceiro mandato como governador e tenta um quarto mandato. Por que é tão difícil melhorar os índices sociais do seu estado?

É porque o Piauí era pobre, mas era pobre mesmo. Era pobre e muito. Você sabe qual era a renda per capita do piauiense em 2003? Era R$ 2.400 por ano, R$ 200 por mês. Estamos falando desse Piauí. Hoje, ultrapassamos R$ 1.000 [por mês]. Se você pegar as projeções do IBGE, o Brasil teve nesse período um grande crescimento econômico, boa parte no governo do presidente Lula e da presidenta Dilma, o Piauí cresceu. O Brasil cresceu em torno de 40% em termos reais. O Nordeste cresceu mais que o Brasil. Algo em torno de 51% a 52% e o Piauí cresceu 84% em termos reais. É a corrida da tartaruga contra a lebre. Temos que ser a lebre.

Em 2016, seu estado teve o segundo maior índice no número de homicídios de jovens entre 15 e 24 anos de idade. O que está dando errado na política de segurança pública em seu estado?

A violência cresceu no Nordeste inteiro e chegamos a uma taxa de homicídios de 28 por 100 mil habitantes há alguns anos. Conseguimos envergar essa curva e reduzir para 20/100 mil. Mas ainda é muito alto. O que mudou? Houve, nos últimos anos, uma perda de controle das fronteiras no Brasil. A entrada de droga e de arma é feita com muita facilidade. Acho que esse é o maior investimento que o Brasil precisa fazer. E sem ele é difícil o estado resolver. É como enxugar com um rodo uma sala que tem uma torneira aberta derramando.

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