Desde a década de 1970 já não é mais segredo o grau de importância daquilo que foi descoberto nas cavernas do interior do Piauí. Na região da Serra da Capivara (onde hoje é um parque nacional) foram encontradas ferramentas e pinturas rupestres cujas evidências datam de aproximadamente 50 mil anos atrás.

Esta informação não é só importante por ser o primeiro registro de vida humana já encontrado no Brasil. Pode ser também o mais antigo encontrado em toda a América.

Acontece que até agora, a principal teoria sobre a chegada do homo sapiens ao nosso continente afirma que chegamos aqui há apenas 14 mil anos. Há uma lacuna de cerca de 35 mil anos que ainda não está respondida pela ciência.

Há evidências de vida humana há 50 mil anos no parque

De acordo com a equipe de paleontólogos do Parque Nacional da Serra da Capivara, lá está a maior concentração de gravuras rupestres do país. O cálculo é de que existam mais de 30 mil registros de nossos antepassados, divididos em 900 sítios arqueológicos.

Análises realizadas com o método C14 de radiocarbono revelaram antiguidade maior que 30 mil anos para tais pinturas.

“Os sítios têm paisagens diversificadas e uma abundância de grafismos com vários temas, cenas e técnicas elaborada. Essa diversidade caracteriza a intensidade e profundidade temporal dessa prática e provavelmente uma variedade cultural estabelecida na região”, afirma a equipe de pesquisadores.

O mesmo método C14 foi utilizado para analisar materiais líticos e cerâmicos, enterramentos e resíduos de fogueiras. O resultado foi este que conhecemos: há pelo menos 50 mil anos já existia presença humana na região. Contudo, há controvérsias.

Exame pendente

Embora tenha sido aplicado uma das técnicas mais aceitas entre os paleontólogos pelo mundo, a prova da existência humana nas Américas desde 50 mil anos atrás não é aceita por muitos. Eles afirmam que tais ferramentas e resíduos não foram resultados da atividade humana, mas da natureza.

MARCOS AMEND/SHUTTERSTOCKPinturas rupestres em um sítio arqueológico no Parque Nacional Serra da Capivara

Para Walter Neves, arqueólogo e coordenador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), as evidências são fortes, mas não definitivas. “Estou 99% convencido de que foi produzido por humanos, mas este 1% é significativo na ciência”, afirmou em palestra realizada em 2017.

Fóssil mais antigo

Se ainda há dúvidas sobre a natureza das pinturas e das ferramentas, não há nenhuma sobre o fóssil: é, de fato, de um humano. O esqueleto foi batizado de Zuzu pelos pesquisadores e foi estimado como um homem de 35 a 45 anos – idade elevadíssima para a época – que viveu há 9.920 anos.

Zuzu é o segundo fóssil mais antigo do Brasil. Na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, na década de 1970, foi encontrado um esqueleto de uma mulher cuja estimativa é de 11.500 anos. Anos depois, Walter Neves foi o responsável por batizá-la: chamou-a de Luzia, uma homenagem à Lucy, primeiro fóssil de australopithecus encontrado na África.

Parque Nacional é também aberto ao turismo

O Parque Nacional da Serra da Capivara pode ser seu próximo destino de férias. Não é o tipo de lazer com praia e festas, mas pode interessar aos curiosos sobre arqueologia e história. De acordo com as informações da Embratur, o número de visitantes anuais não ultrapassa os 20 mil – o que é pouco para a manutenção da estrutura turística.

DADO PHOTOS/SHUTTERSTOCK

A localização é um dos porquês. A entrada do parque fica no município de São Raimundo Nonato, distante 510 quilômetros de Teresina, capital do estado – mas há aeroporto em São Raimundo Nonato. Não à toa, a Serra da Capivara foi aceita como um dos patrimônios culturais da humanidade pela Unesco.

Entre as atrações estão visitas a 17 sítios arqueológicos e também trilhas para fazer a pé ou de bicicleta. Outra instalação é o Museu do Homem Americano, com acervo de ferramentas e fósseis, entre eles o crânio de Zuzu.

site oficial da Fundação Museu do Homem Americano tem todas as informações para o turismo na Serra da Capivara.

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FONTESaoRaimundo.Com
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