Chefe da unidade fala da parceria com Niéde e sua equipe

Moradora da pequena cidade de Coronel José Dias (550 km de Teresina), um dia ela deixou seu rincão natal para ganhar o mundo. Fez graduação em São Raimundo Nonato e terminou buscando especialização no exterior.  Voltou de Portugal para o sertão com um título de doutorado embaixo do braço e assumiu a chefia do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Marian Helen Rodrigues 41 anos é a jovem arqueóloga que dirige em parceria com a cientista Niéde Guidon e os pesquisadores e técnicos da Fundação Museu do Homem Americano os trabalhos na unidade de conservação. Ela explica que o Parque Nacional da Serra da Capivara possui um acervo cultural e ambiental que conta a história dos povos do mundo, do Brasil, do Nordeste, do Piauí, “mas especialmente a minha, pois nasci aqui e todos os meus antepassados também”.

Para Marian que veio ao mundo exatamente 1 ano antes da criação do primeiro parque arqueológico federal, coordenar as comemorações de seu aniversário de 40 anos é uma honra para o seu povo – que foram e continuam sendo os legítimos guardiões desse território de tradições milenares. Nessa pequena entrevista ela descreve esse patrimônio cultural da humanidade que faz aniversário e destaca a importância da CR5, coordenação regional do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é liderada pela experiente funcionária pública federal, pós graduada em Direito Administrativo Ana Célia Coelho que também é filha da microrregião no apoio aos trabalhos na Serra da Capivara.

Portal O Sertão: Pela primeira vez duas mulheres – uma de Coronel José Dias e outra de São João do Piauí – se tornam protagonistas ao mesmo tempo do importante trabalho de proteger, conservar e divulgar o Parque Nacional da Serra da Capivara. Você na chefia do parque e a Ana Célia na gerência da CR5. Como isso ajuda no trabalho e na parceria com a Fundação Museu do Homem Americano que já desenvolve um trabalho magnifico no parque?

Marian Helen: Logo que assumi a gerência do Parque Nacional da Serra da Capivara procurei a pesquisadora Niéde Guidon para dizer a ela que todos os trabalhos na unidade continuariam utilizando o know-how da Fundação Museu do Homem Americano e sua expertise. Que nosso objetivo era um só, único: proteger, pesquisar e desenvolver esse lugar especial. Desde então, sempre com o apoio da Ana Célia na CR5, estamos trabalhando em perfeita harmonia, tentando ajudar Niéde e evitando que os projetos em andamento sejam paralisados, interrompidos. Por outro lado, estamos cada vez mais retirando despesas obrigatórias tanto da responsabilidade da FUMDHAM como do escritório do parque, ou seja, nossos colaboradores efetivos e fixos, todos da região e escolhidos em parceria com a instituição científica, agora são contratados por empresas que ganham licitações nacionais. Com isso, evitamos as preocupações mês a mês, ou projeto a projeto, com pagamentos e podemos com a Ana Célia diz: focar nas ações estratégicas para a gestão, construindo propostas para proteção, incentivo ao uso público do parque, integrando as sociedades e as comunidades do entorno, direcionando a aplicação dos recursos para atividades inovadoras e inclusivas, podendo ainda dar resposta mais efetiva às imediatas e inesperadas, destinando os recursos disponíveis da melhor forma possível, sempre em parceria com a FUMDHAM. Chegamos para somar, para ajudar, para colaborar. O protagonismo é e sempre será da Niéde e sua equipe que fizeram e fazem um trabalho exemplar. Agora estamos juntas.

Portal O Sertão: Explique um pouco a programação de aniversário do parque. Vocês englobaram eventos nos 4 municípios da região?

Marian Helen: O Parque Nacional da Serra da Capivara está situado em áreas dos municípios de Brejo do Piauí, Coronel José Dias, João Costa e São Raimundo Nonato. Em todo o seu polígono temos sítios arqueológicos, uma biodiversidade exuberante e um povo ávido por desenvolvimento, integração e conhecimento. Por isso, estamos propondo uma programação que envolverá os povos da Serra da Capivara que habitam nos quatro municípios. Traremos conhecimento científico e popular, beleza e aprendizado mútuo de maneira simétrica.

Portal O Sertão: Você pode fazer um pequeno resumo sobre a importância do parque?

Marian Helen: O Parque Nacional da Serra da Capivara é uma Unidade de Conservação Federal, é Sítio Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e Patrimônio Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Brasil. Além de toda essa riqueza natural e cultural, com certeza a Serra da Capivara se enquadra entre as melhores reservas do Brasil em termos de infraestrutura, tanto de visitação como de conservação e proteção. Como diz a professora Niéde Guidon “temos aqui um exemplar único no mundo” e, portanto, deve ser reconhecido e preservado por todos nós.

Portal O Sertão: Como vocês estão integrando as comunidades humanas e suas tradições?

Marian Helen: Esse é o território mais antigo da ocupação humana nas Américas, desde o Pleistoceno Superior (pelo menos 50 mil anos) estamos aqui produzindo e construindo uma história. Os  homens e mulheres dessa região mantiveram (e ainda mantém) práticas tradicionais (de sobrevivência) semelhantes as dos seus antepassados. Então, somos mesmo capivarenses especiais e todo esse acervo de conhecimento e tradições deve ser preservado no presente para o futuro.

Portal O Sertão: Existe um projeto para que em 2020 seja feito um evento temático em homenagem aos 50 anos da chegada da pesquisadora Niéde Guidon na região em 1970?

Marian Helen: A professora Niéde Guidon é um exemplo de pesquisadora que viveu para dar ao Parque a dimensão que ele tem hoje. Colocou o Piauí no mapa mundial como uma das regiões mais ricas (ambiental e culturalmente) do planeta. Por isso, em 2020 iremos trazer uma programação especial e temática para homenagear os 50 anos de sua trajetória no Piauí. Ela merece! O Piauí agradece e a população quer. Então em 2020 vamos fortalecer essa homenagem.

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FONTEColaboração e Foto de André Pessoa
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