São Paulo – As rusgas entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente da República, Michel Temer, continuam. O novo episódio aconteceu nesta terça-feira (10). Irritado com a atitude dos líderes do governo, que retiraram seus deputados de plenário e não deram quórum para a votação da medida provisória 784, Maia avisou: “Não vamos votar nenhuma medida provisória até regulamentar” (a matéria, por proposta de emenda à Constituição).

“O governo não quis votar a MP 784. O governo derrotou o presidente do Banco Central”, disse ainda o presidente da Câmara. A fala de Maia não parece ser apenas teatro. No mínimo, ele procura demonstrar independência de Temer, já que a popularidade do peemedebista é praticamente zero.

O deputado federal Silvio Costa (Avante-PE) não comenta se a atitude de Rodrigo Maia poderia ser um novo sinal indicando que trabalha de fato pelos votos para derrubar o presidente, na apreciação da segunda denúncia do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Mas, para o deputado, uma coisa é clara: “O Rodrigo Maia está sendo muito correto com Temer. Se Maia mexer com as pedras, o Temer cai. Temer tem que ficar agradecido a ele, porque se Rodrigo fizer algum movimento, ele cai. Não tenho dúvida disso”, diz Costa. O parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), lido nesta terça (10), é favorável a Temer e contrário à denúncia, e só será votado na Comissão de Constituição e Justiça na semana que vem.

Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), Rodrigo Maia “está em movimento”. “Acho que há um movimento em curso, por parte do presidente da Câmara, para tentar se viabilizar enquanto uma alternativa. Ele só não deflagrou esse movimento porque ainda não tem a segurança de ter os 342 votos”, diz Pimenta. “A partir do momento em que tiver, nas contas dele, condições de buscar essa votação, eles vão abrir um movimento para afastar Temer e dar o golpe no golpe.”

A troca de Temer por Maia, acredita o petista, seria uma tentativa pragmática de viabilizar as reformas, como a da Previdência. “A tentativa tem por objetivo criar uma maioria que possa fazer as reformas que o Temer não consegue mais entregar. Mas as únicas saídas são anular o impeachment ou Diretas Já.” Para o deputado do Rio Grande do Sul, “Maia não está dando esses sinais à toa: está em movimento”.

Outro deputado de oposição, que tem muito bom diálogo com Rodrigo Maia e preferiu falar em off, afirma que os movimentos do presidente da Câmara dão a impressão de que, por um lado, ele tenta “se descolar” do governo absolutamente impopular, já que será candidato a deputado em 2018. E, de outro lado, na prática, ele sinaliza aos insatisfeitos com o governo Temer que “está ali, para qualquer eventualidade”.

O fato de o novo mal estar ter sido causado pela não votação da MP 784 é significativo. O texto trata de acordos de leniência do Banco Central com bancos e instituições financeiras que cometeram ilícitos. Na manhã de ontem, o presidente da Câmara recebeu, para um café da manhã, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, o principal articulador da medida e um dos vários representantes do mercado no governo. O mercado pode estar se cansando de Temer.

Deixe seu comentário
COMPARTILHAR