Nesse pedaço do Nordeste desconhecido até o céu parece ter mais vida. Lembra uma coreografia ensaiada pelo bando de marrecas. A equipe do Globo Repórter está num recanto de preservação da natureza do Piauí. A Reserva de Proteção Ambiental Nazaré Eco possui 1.012 hectares de mata inteiramente preservada a 40 quilômetros de distância da cidade de Teresina, no Piauí. Ali é possível encontrar espécies da Mata Atlântica, da Floresta Amazônica, do Cerrado e da Caatinga. Um viveiro natural da fauna brasileira.

O ornitólogo Marcos Pérsio entende de aves como poucos. É com ele que a equipe do Globo Repórter vai conhecer algumas das 250 espécies que vivem no local. Marcos atrai os pássaros com um gravador, que reproduz o canto das aves. São tantos os pássaros que o cinegrafista San Costa precisa escolher rapidamente o que vai focar. E nessa mata encantada encontramos uma raridade, uma das menores aves do mundo, com cinco a seis centímetros de comprimento, daí o nome popular de ‘miudinho’.

Uma das aves mais raras do sertões do Nordeste só pode ser encontrada nas encostas da Serra do Araripe, no sul do Ceará. É o soldadinho do Araripe, criticamente ameaçado de extinção. Restam apenas 255 casais na natureza. O número vem diminuindo a cada ano por causa da seca, mas a região é rica em nascentes com água cristalina. Tivemos sorte e encontramos a ave símbolo da serra do Araripe. O macho é tricolor:  vermelho, branco e preto. A fêmea tem as penas esverdeadas, completamente diferente dos machos. “Essa ave hoje é o símbolo da região. Ela foi adotada devido a sua beleza como espécie de ícone”, explica o biólogo Weber Girão.

Cada pássaro tem seu charme, na reserva Nazaré Eco, no Piauí. O pica-pau exibe um penteado estiloso. Um voo elegante, majestoso, do gavião caramujeiro. Depois de encher o papo ele voa e canta com satisfação. Essas aves são exuberantes e muito cobiçadas. Estão sempre ameaçadas pela caça e tráfico ilegal de animais silvestres. Mas ali os bichos estão ganhando uma nova legião de admiradores. Uma iniciativa para preservar a fauna nordestina. Em uma região onde predominava a caça, um grupo de caçadores resolveu trocar as espingardas por máquinas fotográficas. E eles estão participando de um concurso. Quem fotografar o animal ou a paisagem mais bonita vai ganhar um prêmio.

O compadre Romão, como todos o conhecem por ali, era um dos maiores caçadores da região.

Globo Repórter: Que bichos você matava?
Compadre Romão, ex-caçador: Era mais juriti, cotia, paca, veado, catitu.
Globo Repórter: Mas caçar você não caça mais.
Compadre Romão: Não, isso aí pronto é minha máquina. Eu pego a cotia, ela vai aqui, chega lá eu digo ‘olha aqui’, chega a coisa mais linda do mundo.
Globo Repórter: Porque a caça você levava ela morta para casa.
Compadre Romão: E agora eu levo ela viva, levo foto dela para casa e ela fica produzindo lá na mata. Porque do jeito que a gente está matando, daqui a dez anos nós não vamos ter.

Com as novas armas em punho, eles saem para caçar fotografias. Preservar e eternizar os animais. E na despedida do dia, com o céu multicolorido, a natureza ganha contornos ainda mais espetaculares.

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