Serra da Capivara vai ganhar espaço cultural e científico com tecnologia de alto nível para incentivar turismo no Piauí.

A fabulosa foto aérea de André Pessoa com efeito natural de flare (quando a lente da máquina é direcionada diretamente para uma forte fonte de luz, nesse caso o sol, refletindo diversas cores), mostra o primeiro edifício circular e em espiral planejado com estrutura metálica no Brasil. Como ele só existem outros no exterior.

As obras são do Museu da Natureza em andamento na zona rural do município de Coronel José Dias (516 km de Teresina), zona de entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, e que vai se transformar em mais um atrativo turístico para o público que deseja conhecer as maravilhas naturais e culturais dessa magnifica reserva federal brasileira.

Com investimentos de quase R$ 14 milhões através do BNDES e Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), a obra deve ser inaugurada no próximo mês de dezembro. Escolhido para ser construído num terreno com 18 mil m², o projeto do Museu da Natureza incorpora de forma orgânica baseada em uma rampa helicoidal – a mesma forma do tronco do cacto mandacaru -, representando no sentido ascendente a evolução dos eventos geológicos e paleontológicos desde as origens da região até a contemporaneidade.

A forma arquitetônica procura replicar uma das milhares de pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara. Serão 4 mil m² de área construída com um edifício com altura equivalente a quatro pavimentos.

Para viabilizar a acessibilidade do projeto o acesso ao museu será feito pela parte mais alta do terreno, em um platô. Nele uma construção em linhas mais retas abrigará a bilheteria, a lanchonete e os sanitários, além da administração do museu, acervo técnico e um pequeno auditório para 80 pessoas. Nesse espaço poderá haver a exibição de filmes que complementem exposições e seminários. A partir daí o visitante entra em uma rampa, um circuito de visitação na forma de um grande corredor no qual as peças serão expostas. Os arquitetos projetaram para o alto da espiral um terraço cercando a cúpula, que vai oferecer uma belíssima vista panorâmica das formações geológicas do parque e da vegetação da Caatinga. O terraço terá a aparência de um deck e poderá ser usado para exposições ao ar livre. O espaço deverá ter bancos para que os visitantes possam se sentar e admirar a paisagem.

O acesso ao interior do prédio é feito por uma segunda rampa. Esse ambiente abrigará outro espaço expositivo dos fósseis encontrados na região, como por exemplo o esqueleto de uma preguiça gigante encontrada nas escavações na zona de entorno do parque, além da reprodução de outros animais da megafauna. Uma cúpula envidraçada iluminará o núcleo do prédio. O visitante passará de um ambiente escuro e climatizado, com projeto luminotécnico da empresa Magnetoscópio – do conhecido designer e curador de exposições Marcello Dantas –, para um terraço ao ar livre. Na sequência, ele voltará para o núcleo do prédio, agora, desfrutando da iluminação natural.

Saindo do museu haverá uma grande praça, com visual exuberante, e um anfiteatro para eventos culturais promovidos no dia a dia do museu. Nessa área térrea, haverá ainda uma lojinha com produtos como artesanato e livros à venda, sendo uma oportunidade de divulgar os trabalhos realizados pela instituição.

O sistema construtivo do Museu da Natureza será todo metálico pois o terreno é arenoso, o que dificulta o projeto de fundações de concreto. Dentro da área de 18 mil m² há uma erosão muito grande, uma espécie de buraco que exigiu a realização de ajustes. Por outro lado, o clima semiárido da região garante um solo bastante estável. Um dos motivos para a especificação das estruturas metálicas na construção do museu foi a inexistência de empresas qualificadas para fornecer concreto na região, além da grande distância em relação às capitais. Em termos logísticos, a estrutura metálica chegou pronta, em pedaços, o que facilitou a construção.

Os fechamentos das estruturas metálicas foram feitos com placas cimentícias que deixaram o local pronto para pintura ou para a instalação de qualquer outro revestimento. Elas são curvadas e, mediante uma estrutura auxiliar, foram aparafusadas, conferindo o formato circular ao edifício. As cores dos acabamentos devem atender a aspectos regionais, com destaque para os tons das rochas e da terra avermelhada. A ideia é criar tonalidades que remetam à natureza local.

Surpreendentemente, o prédio com sistema estrutural arrojado, em função da logística, é simples e de fácil manutenção. Essas foram as premissas usadas no projeto. A explicação é simples: a Fumdham, entidade sem fins lucrativos e que depende de patrocínios para se manter, vai operar e fará toda a manutenção necessária no museu. Todos os sistemas de instalações elétricas, hidráulicas e ar condicionado atendem as boas práticas para a sustentabilidade do edifício e está previsto o reúso da água da chuva com a construção de um tanque de retenção e uma pequena Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), já que não há rede pública no local, evitando assim que os dejetos sejam descartados na natureza.

Agência Raízes do Piauí com informações do Portal da Arquitetura,

Engenharia e Construção.

Foto: André Pessoa

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