Crítica do diretor de fotografia do filme Niède, Jacques Cheuiche
Estou até agora impregnado por NIÈDE.
Assisti como você sabe, em tela menor, em cinema com menos lugares. Mas não foi menor a emoção das imagens que me contagiaram e ao publico do começo ao fim. Inteiro e com tudo pronto era minha primeira vez.
Lindo, exuberante, abrangente, necessário, foram alguns dos adjetivos que colhi no corredor do cinema. As palmas incessantes no final da sessão não deixaram dúvida que cumprimos com nosso intento cinematográfico.
Tiago você tem uma obra que ultrapassa os limites da tela 2:35. Já faz parte de documento histórico se unindo aos milhares de outros da Serra da Capivara, da Arqueologia e da História do Mundo. A cada plano vinha na minha memória o dia-a-dia da nossa épica aventura na caatinga. Entre pedras e poeira fomos construindo a sua realização. Entre pinturas “de índios” de milhares de anos e lentes e câmeras de última geração, se deu o encontro universal da linguagem dos humanos.
Assim como tentamos decifrar essas interessantes pinturas, os antigos habitantes não teriam dificuldade (se assim pudessem fazê-lo) de apreciar o filme que retrata seus feitos e de quem os vasculha. O filme nos coloca em situação privilegiada. Niède e sua equipe nos dá “mastigado” todo um trabalho realizado por anos com o passo e determinação de formiguinhas curiosas e incansáveis. Escavando, limpando, buscando, comparando e sonhando de baixo de um sol saariano e um céu revelador de nossa insignificância na plenitude da abóbada celeste.
Nos é revelado a idade da pedra, quem esteve e quem não esteve por ali, que eram felizes e alimentados, sem maiores conflitos no cotidiano das eras passadas. “Só os povos felizes pintam, fazem arte” nos sentencia a Doutora Guidon. Esse é o ponto crucial do filme: Felicidade.
Niède tem a felicidade de dar ao mundo respostas (e questionamentos) no meio de um infinito número de sítios arqueológicos na maioria ainda não explorados. Confesso que a felicidade tomou conta de mim também. Ser convidado para trabalhar com essa equipe foi uma honra e privilégio. Não esquecerei nunca do empenho de todos, da paciência da criação, da força que nos fez percorrer com todo tipo de equipamento os caminhos milenares da Capivara, nos lugares em que aqueles pintores estiveram, olhando a sua arte e suas serras.
“São páginas soltas de um livro, que devem ser encontradas” afirma magistralmente a titular da obra.