Na Caatinga é assim: só os fortes sobrevivem. Dos cactos às pequenas flores, é preciso estar atento. Porque o perigo pode estar à espreita. E é ali que Paula e Amaury criam os animais para manter um restaurante. O casal mora ao lado do Parque da Serra da Capivara. Com a proibição da caça e a política de conservação dos animais, os felinos estão se reproduzindo mais. O casal reforçou a segurança do chiqueiro depois dos ataques. O rastro da onça ainda pode ser visto no terreno deles. ‘Muitas pessoas criticavam a gente porque a gente não matava a onça. Mas nós que moramos aqui, vizinhos ao parque, temos que preservar, não é não? Estamos aqui na área delas, então temos que acostumar com elas e elas acostumar com a gente’, diz Paula.

Nem todo mundo tem a tranquilidade dela. Algumas famílias, com filhos pequenos, estão deixando a região com medo. Ademar construiu um muro alto, colocou portões de ferro. E acompanhou o drama do vizinho, que levou a família para longe. O vizinho é o fotografo André Pessoa, que tem filhos pequenos e preferiu se precaver. Ele conhece bem os animais da Caatinga, trabalha na natureza selvagem há 24 anos. André acompanha os pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas, ligado ao ICMBIO e ao Instituto Onça Pintada, com armadilhas fotográficas.  Ele já conseguiu flagrantes impressionantes.

“Eu não acho que seja negativo uma região que tenha onça, ao contrário, é positivo. A onça é o topo da cadeira alimentar, então ela mostra que todo o ecossistema tá equilibrado. Agora quando ela começa a atacar criações, animais domésticos, significa que tem um pequeno desequilíbrio acontecendo. Cabe aos pesquisadores entender isso para evitar que se transforme numa coisa negativa”, explica André.

Os pesquisadores estudam o comportamento territorial e a saúde das onças. Eles espalharam 60 armadilhas em toda a região da Serra da Capivara. Essa metodologia é a mais segura tanto para os animais quanto para os pesquisadores. Ao longo das pesquisas, as armadilhas fotográficas registraram cerca de 23 onças. “Essa área é super importante para a conservação da onça pintada da Caatinga, que é um bioma onde a onça pintada está em grande risco de extinção”, explica o médico veterinário Leanes Cruz da Silva. Mesmo sendo crime, a caça é o maior problema na preservação da fauna nativa

Na sede do ICMBio no Parque da Capivara, em São Raimundo Nonato, podemos ver a quantidade de armas e motocicletas de caçadores apreendidos. “Graças a Deus hoje o nordestino não necessita essencialmente da caça para sobreviver, mas é uma cultura ainda muito forte, muito presente, que aqui no nosso parque é uma das atividades mais combatidas, mais identificadas pelos fiscais”, diz Ana Célia Coelho Coordenadora do ICMBio. A campanha de preservação começa a dar resultados positivos. Os animais não migram mais na época da seca.

O macaco prego nos olha ansioso. Em poucos minutos estamos cercados. São centenas. É hora do almoço, hora de confraternização dos bichos. O cancão, primeiro observa, mas não resiste ao pedaço de banana. Até o pequeno beija-flor se inspira e começa a polinizar. A vida se multiplica numa festa da natureza nesse sertão tão desconhecido dos brasileiros.

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FONTEG1
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