Créditos: TripAdivisor

A presidência da República já anunciou que o presidente Jair Bolsonaro estrará em São Raimundo Nonato nos próximos dias, para uma visita ao Museu do Home Americano e às inscrições rupestres da Serra da Capivara. Será uma visita oportuna. Muito oportuna, e muito mais do que pela evidência para o gigantesco patrimônio arqueológico que a Serra guarda e nos apresenta. Será a oportunidade de mostrar o tamanho do drama vivido pelo Museu nos últimos anos, e particularmente nesses últimos meses, sem atividade, sem recursos e sem a presença direta da criadora Niède Guidon.

Os problemas financeiros do Museu só não são mais antigos que os registros que guarda. São repetidas as matérias (de veículos locais e nacionais) em que Niède se expunha cobrando apoio a um trabalho enorme que o mundo aplaude e o Brasil trata com esmolas. Isso vem se repetindo há décadas e décadas. Mas o presidente Jair Bolsonaro verá o Museu em seu um de seus piores momentos. E será uma oportunidade e tanto para abraçar a causa que não é uma  causa qualquer: as descobertas de Niède e sua equipe obrigaram a arqueologia a repensar o cronograma da chegada do Home às Américas.

O trabalho vem sendo mantido na base do grito, na voz persistente de Niède Guidon, a arqueóloga que adotou o Piauí ainda na década de 1970 e que fez da Serra sua morada e razão de vida. Mas Niède está com 87 anos e já não convém (nem é recomendável) gritar tão alto numa altura dessas. Nesse momento mesmo ela está recolhida, atenta às recomendações que a Ciência define para esse período de pandemia. E é mais um problema para o Museu e para a Fundação mantenedora.

Tudo isso cobra em dobro a atenção de todos, especialmente do mundo político capaz de criar melhores condições para o completo científico e cultural da Serra da Capivara.

Fundação demite metade dos funcionários

Não está fácil a vida no complexo científico-cultural da Serra da Capivara. Com a perda de receitas, a Fundação do Homem Americano não tem condições sequer de manter o pessoal e já demitiu 25 dos 49 servidores que mantinha. Um exemplo da situação grave é o Museu da Natureza, inaugurado no ano passado: hoje tem apenas 4 dos 14 funcionários que contava antes da pandemia. Mas a pandemia apenas piorou o que já era dramático em um parque que tem dois museus mas é, sobretudo, um grande projeto de estudo sobre o Homem.

O parque foi criado em 1979. Foi o ponto de partida para o que viria a ser depois o grande espaço de atração turística e cultural. A Fundação administra tudo em co-gestão com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Mas os recursos são limitados: no ano passado, o dinheiro repassado pelo governo federal somou apenas R$ 1,5 milhão. Em 2020, ainda tenta a liberação de R$ 1,1 milhão para a conservação da área.

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FONTEFenelon Rocha - Cidade Verde
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