Ministério Público do Estado do Piauí apoia iniciativa ambiental em prol da Caatinga!
Agência Raízes do Piauí
O projeto de produção, plantio e distribuição gratuita de mudas de espécies nativas da Caatinga conhecido como Viveiro Mata Branca, localizado na Serra Vermelha, zona rural do município de São Raimundo Nonato (525 km de Teresina), deu início ao projeto de construção de um pequeno centro de educação ambiental no povoado. Batizado de CAAC, ou Centro Ambiental Alexandre Ciero, a iniciativa deseja atender os estudantes e o público que visita o projeto do Viveiro Mata Branca.
O nome Alexandre Di Ciero é uma homenagem ao engenheiro florestal com reconhecido know-how na área de meio ambiente no Brasil e no exterior, um paulista que se apaixonou pela Caatinga e foi um dos primeiros incentivadores para a criação de um viveiro de mudas nativas no interior do Piauí. O complexo ambiental do Viveiro Mata Branca hoje é um projeto do Instituto Ecológico Caatinga (IEC), uma ong sem fins lucrativos instalada em 2014 numa das estradas de acesso ao Parque Nacional da Serra da Capivara, mais conhecida como antiga estrada do Zabelê.
Nos 6 anos de produção efetiva do viveiro, já que ele passou por alguns problemas como fortes ventos que destruíram seu principal canteiro obrigando o projeto a ficar parcialmente paralisado, mais de 20 mil mudas de espécies nativas da Caatinga, ambiente exclusivamente brasileiro, já foram produzidas, plantadas ou doadas, uma média de 300 mudas ao mês. Dezenas de espécies de árvores são produzidas diariamente no local, tudo com mão-de-obra voluntária.
Apoio institucional
Alguns meses atrás o promotor criminal Leonardo Dantas Cerqueira, responsável pela 1* Promotoria de Justiça de São Raimundo Nonato, solicitou informações sobre as atividades da organização não governamental ambiental e a documentação da instituição, demonstrando interesse em colaborar com a iniciativa que não tem fins lucrativos. A ideia é direcionar parte de multas pecuniárias para a construção do centro ambiental. Os contatos foram intermediados pela empreendedora Socorro Macêdo, uma espécie de madrinha e uma das maiores colaboradoras do projeto.
Logo o engenheiro Carlos Magno foi procurado e se prontificou a colaborar com o projeto também de forma voluntária, como parceria com o Viveiro Mata Branca. Assim, todo o planejamento estrutural e arquitetônico desenvolvido pelo engenheiro foi feito buscando o maior equilíbrio com a natureza. “O prédio projetado tem 12 janelas para facilitar a circulação do ar. A cobertura do telhado em forma de asa delta permite a entrada das correntes de ar. Já a disposição do prédio facilita a circulação do vento (como nos boqueirões naturais). A ventilação dos cômodos, incluindo o auditório, foi toda pensada para viabilizar a passagem da corrente de ar e permitir economia de energia”, explicou o engenheiro.
O formato e disposição do telhado foi projetado para captar a água da chuva e armazenar numa cisterna de 10mil litros, mas, talvez, o mais importante, é que o seu formato foi pensado para ser ideal na instalação de um sistema de energia solar no futuro, quando a instituição tiver os recursos necessários. Agora, a forma do telhado também vai permitir a instalação interna de uma caixa d’água de mil litros para abastecer os banheiros, laboratório e jardins quando faltar água corrente.
O prédio terá um pequeno auditório com capacidade para 15 pessoas sentadas e outras 10 em pé. Um pequeno laboratório, um depósito e banheiros feminino e masculino, além de um banheiro construído especialmente para atender crianças e adultos com necessidades especiais. Todo o prédio será acessível e protegido por uma calçada circulando a construção.
Mudando hábitos
“Não vamos fazer nenhum desmatamento, nenhuma árvore será derrubada. Escolhemos um trecho do terreno apenas com mato ralo”, se antecipou Carmelo Valter, um dos mateiros voluntários do projeto, para explicar à disposição do prédio que vai ficar atrás do atual viveiro, conhecido como maternidade e onde as mudas ainda pequeninas são produzidas. O terreno onde o CAAC será construído foi uma doação do cineasta Toni Nogueira, premiado fotógrafo de documentários, entre eles o famoso Patrimônios da Caatinga. Na última década Nogueira vem se destacando como um dos grandes divulgadores da Serra da Capivara mundo afora.
Um bacana e simples projeto de paisagismo também deve ser feito de forma voluntária nas próximas semanas, contribuindo como numa rede em prol da educação ambiental, em especial das novas gerações de toda a microrregião de São Raimundo Nonato. O viveiro tem capacidade para fornecer mudas para vários municípios e, de certa forma, já faz isso.
“O projeto realmente é pequenino, mas vem fazendo uma diferença enorme aqui no semiárido”, ratificou o mateiro Carmelo. “Sempre que posso pego minha moto e venho no viveiro molhar as plantas. As vezes nem tenho dinheiro para o combustível, mas dou um jeito pois o trabalho com as plantas é uma espécie de terapia, me faz passar o tempo e ouvir a natureza” ensina ele com 52 anos de experiência no Bioma. Quando emissoras de televisão internacionais como a Discovery Channel, vem gravar na região, procuram o experiente sertanejo que conhece todos os detalhes da mata branca.
Importância ambiental
Apesar de pequeno, o projeto do Viveiro Mata Branca já foi destaque no exterior e em revista de circulação nacional. Em 2017, numa parceria com a instituição ProBrasil, a iniciativa ambiental teve destaque numa exposição na Alemanha e pôde apresentar ao público da Europa através de banners e de uma palestra do jornalista André Pessoa, na capital Berlim, onde ele explicou detalhadamente como a empresa Suzano apoia o projeto de recomposição florestal no Piauí permitindo a distribuição gratuita das mudas.
Aqui no Brasil o destaque foi na reconhecida e respeitada revista Página 22, da Fundação Getúlio Vargas. Com o titulo de “A hora e a vez da floresta severina”, e assinada pelo jornalista Sérgio Adeodato, a reportagem começa destacando o projeto do Viveiro Mata Branca. “Na estrada de acesso ao Baixão das Andorinhas, um dos vales mais espetaculares da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, sertão do Piauí, um pequeno viveiro com mudas de espécies como angico, aroeira e pau d’arco simboliza o desafio de frear a destruição e recuperar pelo menos em parte os estragos causados à Caatinga – bioma de características únicas no mundo, intensamente exposto à pressão do desmatamento”, explica o repórter.
Com 844 mil quilômetros quadrados, 11% do território nacional, abrigando rica biodiversidade e 27 milhões de pessoas, a maioria dependente dos recursos do bioma para sobreviver, a Caatinga é “rota para paredões com pinturas rupestres que retratam a vida dos primeiros homens americanos na exuberante floresta que lá existia há milhares de anos, o local é estratégico: abriga atividades de educação ambiental, na expectativa de que as novas gerações olhem para a vegetação típica do semiárido como oportunidade e não empecilho a conquistas econômicas”, escreveu Adeodato na publicação.
Novas gerações
“É urgente semear a ideia de que é possível reverter a cultura da degradação, causada muitas vezes pela necessidade de sobrevivência, adverte Melissa Gogliath, diretora-cientifica do Instituto Ecológico Caatinga (IEC), responsável pelo viveiro Mata Branca, para em seguida completar: Estigmatizado pela pobreza, o bioma é explorado à exaustão e sempre teve a sua importância ambiental relegada a um segundo plano, o que coloca em risco a existência dos recursos no futuro”, ficou registrado na edição 104 da revista publicada em São Paulo no dia 5 de outubro de 2016. (veja link): https://pagina22.com.br/2016/10/05/a-hora-e-a-vez-da-floresta-severina/
Com cerca de 40 espécies nativas, a estufa, apesar de modesta diante da escala da degradação da Caatinga, integra o esforço vindo de várias partes para o recobrimento da paisagem. Não à toa, o local foi procurado por técnicos em busca de auxilio para o plantio de arvores como compensação pelos impactos da ferrovia Trasnordestina, conforme estabelecido no licenciamento da obra. Literalmente fazer a recomposição florestal, ou seja, devolver a natureza as espécies que retiramos para grandes obras ou para o conforto e as necessidades da nossa sociedade.
O viveiro Mata Branca só trabalha com espécies nativas da Caatinga e, para garantir a qualidade da sua produção, correto plantio e distribuição sem manipulações politicas, além do rigoroso controle científico, o projeto conta com a consultoria técnica de pesquisadores do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD), instituição ligada ao Ministério do Meio Ambiente e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), sob a coordenação do cientista José Alves de Siqueira Filho, autor da obra “Flora das Caatingas do Rio São Francisco – História Natural e Conservação”, ganhador do 55* Prêmio Jabuti 2013.