ARTIGO DE OPINIÃO

André Pessoa*

“Que bacana André, a cidade é interessante, toda limpa, iluminada, com as praças arrumadas. Taí, gostei da primeira imagem”. Essa impressão quem teve foi uma amiga de Juazeiro ao chegar em São Raimundo Nonato. É verdade que a cidade baiana nunca foi um exemplo, digamos, de organização e limpeza, mas a constatação, verdadeira e simples, de uma pessoa que estava conhecendo o Piauí pela primeira vez e entrava na cidade no começo da noite de um sábado, me chamou a atenção.

Numa das minhas primeiras viagens a São Raimundo Nonato, no começo da década de 1990, me lembro que cheguei à noite e a cidade era escura. Estávamos em época de natal e mesmo assim não existia uma só loja com letreiros ou decoração natalina. Tudo era muito simples, mas a cidade tinha coisas interessantes. Seu pequenino casario colonial, quase as margens do Rio Piauí, de tão singelo me encantou provando a sua história centenária. Perto da cidade, nas escarpas da Serra da Capivara, eu sabia que a história era ainda maior, milenar.

No entanto, como se fosse um sintoma do isolamento da região, a cidade, literalmente escura e muito mal cuidada, causava de imediato uma péssima impressão. A sujeira das ruas era escandalosa: esgoto, entulhos, material de construção, urubus, bovinos, jumentos, caprinos e até porcos dividiam as vias públicas com os pedestres. Becos escuros e ruelas abandonadas davam uma absurda sensação de descaso. As entradas da cidade estavam tenebrosas, com poeira, pedras, lixo, areia, sujeira, sacos plásticos decorando os terrenos ou espalhados pelo meio-fio. Realmente parecia que todos tinham se acostumado com aquele estado de coisas.

Mas os anos se passaram. Incrível, quase três décadas se passaram e nada, quase nada mudou. A população local passou por verdadeiros estelionatos eleitorais. A cada eleição um novo “Salvador da Pátria”. A história se alternou entre o Grupo dos Ferreira e a oposição liderada pelo Padre Herculano. Isso foi machucando a população. Foi uma desilusão atrás da outra, parecia a novela O Bem-Amado com Odorico Paraguaçu e suas recorrentes histórias de corrupção e discursos histriônicos. A fictícia cidade de Sucupira, na realidade a sofrida São Raimundo desabou em vergonha. E isso baixou ainda mais a auto estima do povo. Ninguém acreditava em ninguém. Político passou a ser sinônimo de sacanagem, desrespeito, corrupção, descaramento, sujeira e malandragem. O sujo falando do mal lavado. Muito parecido com o que vivemos hoje em nosso País.

Nesse interior, os “grandes” políticos do Piauí e do cenário nacional, se afastaram de São Raimundo Nonato. Por mais que eles próprios fossem acusados de irregularidades, a aproximação com a política de São Raimundo Nonato era considerada tóxica. Não à toa a cidade tinha sido motivo de chacota em rede nacional nos programas humorísticos do Chico Anysio e do Jô Soares. Nesse caos, quase um colapso administrativo, um político se destacou. Filho da vizinha São João do Piauí, o deputado federal José Francisco Paes Landim encontrou uma forma de fugir da polarização entre os dois clãs políticos. Usando o argumento de que estava lutando pela região do Parque Nacional Serra da Capivara e como apoio ao trabalho de Niéde Guidon, sua estratégia deu certo e ele foi o verdadeiro responsável pela estruturação da cidade nos últimos 20 anos, sempre flanando pelos dois universos da politica local.

Obras como a pavimentação da BR-020, o início da construção do Anel Viário, a implementação do campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco e do Instituto Federal de Educação, verbas e apoio político para a construção do aeroporto, órgãos públicos como a Justiça Federal, Justiça do Trabalho, Ministério Público Federal, INSS, Sebrae, Senac, Sesc e o prédio do Senai, entre tantas outras iniciativas criaram o alicerce, estruturando a cidade para uma nova gestão.

E ela veio com a eleição, em 2016, de Carmelita Castro e Beto Macêdo. Numa brecha de oportunidade e muita articulação entre o grupo do senador Ciro Nogueira (PP) e do deputado Hélio Isaias, uma espécie de Centrão do Piauí, com apoio do governador Wellington Dias (PT) e da vice-governadora Margarete Coelho, esses personagens formaram uma chapa com forte apoio governamental e político, tendo sucesso e ganhando a Prefeitura local.

Carmelita teve um primeiro ano complicado, com envolvimento em várias polêmicas desnecessárias, fruto talvez da inexperiência na gestão da coisa pública, mas principalmente, me parece hoje, pelo descalabro em que se encontrava o Poder Público Municipal – estrutural e moralmente. Todos os órgãos da gestão municipal estavam aparelhados, abandonados, sem registros, com contabilidade precária, finanças arrasadas, pendências judiciais, veículos e máquinas sucateadas, entre muitos outros problemas.

No segundo ano da administração a casa aparentemente começou a se ajustar, com alguns percalços, mas a cidade parecia que tinha um Norte a seguir. Uma série de conjunções politicas favoreceram o município e consequentemente o grupo político da Carmelita. O apoio do Governo de Wellington Dias com sua consequente campanha pela reeleição, o destaque de Margarete Coelho como vice-governadora e o apoio estratégico do líder máximo do PP, Ciro Nogueira que, juntos, viabilizaram uma série de obras públicas para o município, com reflexos positivos, inclusive, na atuação parlamentar de Marcelo Castro e Paes Landim.

Atualmente vemos uma zona urbana onde a gestão pode ser comparada a uma máquina ativa, realizando obras em diversas áreas da cidade e algumas na zona rural, da qual vou me abster de falar pelo pouco conhecimento que tenho das políticas adotadas nessa parte do município. No trecho urbano, temos uma nova cidade com ruas organizadas e limpas, praças acessíveis, iluminação de melhor qualidade, coleta de lixo constante, manutenção dos prédios públicos, melhorias na sinalização (ainda bastante precária), calçamento de ruas e obras estruturantes como a avenida do antigo aeroporto e a nova entrada da cidade pela Barragem do Santa Luzia – essas duas últimas obras realizadas com recursos de emendas do deputado federal e hoje senador Marcelo Castro (PMDB) e também a nova pavimentação asfáltica da zona urbana com recursos destinados pelo Paes Landim.

Nesse meio tempo eu tive a oportunidade de pegar no braço da atual deputada federal, na época vice-governadora, Margarete Coelho, amiga pessoal, e leva-la para ver in loco a importância da pavimentação da estrada entre o SAMU e o IFPI, melhorando o acesso ao Museu do Homem Americano, UNIVASF e todos os bairros da região, desafogando o trânsito do corte e estruturando a cidade para o crescimento ordenado. Hoje a obra é uma realidade graças ao empenho dessa sertaneja que nos orgulha por representar a mulher piauiense. Recentemente fiz outro apelo a ela: a pavimentação da avenida que margeia o Rio Piauí por trás da passagem molhada do Banco do Brasil. Essa rua poderia desafogar o trânsito na entrada e saída do centro, sendo um exemplo de avenida com paisagismo que valorize o rio que deu nome ao estado.

Agora, ao escrever esse artigo posso constatar, pois nós jornalistas trabalhamos com os fatos – as motivações, inclinações, posições e interesses políticos ficam para a consciência de cada indivíduo livre -, que São Raimundo Nonato mudou. Não existe uma só entrada ou saída da cidade que esteja abandonada. As ruas estão limpas como nunca estiveram nas últimas três décadas. O carro do lixo agora tem rotas e horários definidos e depende em grande parte da própria população para manter a cidade limpa não jogando lixo nas ruas e contribuindo com a limpeza pública.

O cidadão que paga seus impostos e todos aqueles que estejam de passagem pela cidade já podem ir a uma praça pública com a sua família com a certeza de uma área higienizada, com boa iluminação, segurança e aspecto agradável. Fica claro que os bens públicos são cuidados, zelados, conservados, mantidos. Os espaços públicos voltaram a pertencer aos pedestres e não mais aos comerciantes. A cidade começa a ter um aspecto de organização. Quadras esportivas foram revitalizadas. Comerciantes foram realocados em espaços específicos e temáticos. Os eventos culturais e religiosos estão sendo tão valorizados.

A saúde pública em São Raimundo se tornou referência na microrregião e o processo de aperfeiçoamento dos serviços parece trilhar o caminho certo, com especialização e o cuidado humano. O SAMU acaba de receber novas viaturas e a rede formada por postos de saúde, UPA e o Hospital Regional também aparenta funcionar de forma saudável, apesar de alguns problemas pontuais denunciados pela própria população – mais consciente dos seus direitos -, e repercutidas na mídia.

Nitidamente se observa que São Raimundo está vibrante, com obras espalhadas pelos bairros, ainda com problemas, é claro, mas com um tratamento diferenciado. Estão cuidando da cidade com carinho. E isso levanta a nossa auto estima. Isso nos enche de orgulho e do prazer de viver num lugar tão mágico: a capital da pré-história. E certamente é o pontapé que precisávamos para diminuir essa imagem negativa que marcou SRN nos últimos anos. O fato é que a cidade mudou. O povo da cidade mudou. E, finalmente, podemos sonhar com um futuro novo.

Parabéns Carmelita Castro e toda à sua equipe pois sabemos que não se faz uma administração municipal sem uma grande e articulada união de esforços. Mas você como a líder politica máxima do município incorpora hoje a imagem da mulher que cuida, da mãe (prefeita) que trata bem dos seus filhos (cidadãos) e que zela pela casa (nosso município) com carinho e competência. É essa a imagem que se tem atualmente em São Raimundo Nonato e que esperamos que prevaleça.

Mas como nem tudo são flores e existem, sim, problemas, vou citar apenas um deles. A nova “engenharia” de trânsito da cidade é um total descalabro. Mudaram rotas e sentidos historicamente absorvidos e utilizados pela população invertendo o fluxo natural, criando dificuldades ao invés de oferecer soluções. Planejaram exatamente no sentido contrário ao bom senso. Não se entra ou sai da cidade sem alguma dificuldade. A insensatez foi tão grande que uma das ruas tem um sinal invertido. Ao parar o carro você descobre que o semáforo está de costas para o seu veículo! Enquanto essas incoerências não forem sanadas, fica difícil esperar que os motoristas e pedestres obedeçam as leis do trânsito.

*André Pessoa é jornalista profissional registrado no Ministério do Trabalho através do MTB 52.722/SP. Autor de inúmeros livros, fotógrafo premiado e produtor cinematográfico, tem trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Vive em São Raimundo Nonato desde 1993.

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