A posse de Raquel Dodge na Procuradoria Geral da República foi antecedida por uma expectativa grande. E uma quase certeza: a substituta de Rodrigo Janot assumiria para desmontar tudo o que o ex-procurador fez. Os primeiros passos de Raquel não mostram esse caminho. Ao contrário.
Nem o discurso nem as primeiras ações da nova comandante da PGR – a primeira mulher que chega à chefia do Ministério Público Federal – levam a acreditar em contemporização com a corrupção. O que serve de indicação, até agora, mostra que as ações terão um novo estilo, mas o mesmo rumo. E com muito vigor.
No discurso de posse, Raquel Dodge não falou em Lava Jato. Mas falou em cidadania, em serviços públicos de qualidade em combate à corrupção. Disse que o povo, que teima em ter esperanças em um Brasil melhor, não tolera a corrupção. Tudo a ver com a Lava Jato.
E se o discurso é positivo, os primeiros atos são mais ainda. Primeiro, é preciso lembrar que Raquel Dodge não pode ser confundida com uma mosca morta, como se se tratasse de alguém escondida lá no fundo do MPF e agora alçada à condição da Procuradora-Geral para atender esse ou aquele interesse. Ela tem histórico de medidas duras. Basta lembrar, foi ela quem levou à prisão de José Roberto Arruda, do DF, o primeiro governador no exercício do mandato a ser preso no Brasil. Tem uma trajetória de rigor com as leis e defesa do que é público.
Além disso, a equipe que montou como suporte para áreas cruciais é de meter medo em qualquer corrupto.
No grupo que vai cuidar da Lava Jato no âmbito da PGR, o coordenador será o procurador José Alfredo Paula Silva. Quem é ele? Pois bem: ele esteve à frente de operações como a Zelotes e também integrou o time que investigou o Mensalão do PT. Como suporte direto, José Alfredo terá três outros procuradores, Hebert Mesquita, Luana Vargas e José Ricardo Teixeira – os dois primeiros atuaram nas operações que levaram à prisão de Geddel Vieira.
Tem mais. Na secretaria com função penal dos que têm foro privilegiado, estarão à frente Raquel Branquinho e Alexandre Espinosa, ambos integrantes da equipe que investigou o Mensalão.E para a secretaria de Cooperação Internacional tem Cristina Romanó, que traz na bagagem uma boa temporada na Corte Internacional de Haia.
A história, a primeira fala e os primeiros atos de Raquel Dodge devem gerar uma nova expectativa nos que sonhavam com um Ministério Público sereno e pouco ativo. Sereno pode até ser, condizente com a voz miúda e o jeitinho de freira da nova Procuradora-Geral. Mas não há perspectiva de pouca atividade.
Para os que ainda mantêm a dúvida, o aviso vem de Roberto Gurgel, que foi o chefe da PGR à época do Mensalão e conhece a Casa. Para ele, Raquel Dodge será rigorosa. E muito firme.