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Mel do Piauí é liberado para os EUA, mas tarifaço de Trump preocupa setor

Após articulação da Casa Apis, carga de 95 toneladas de mel orgânico do Piauí é embarcada para os EUA antes da tarifa de 50%, mas exportadores seguem em alerta

O embarque do mel que estava retido em Pecém representa cerca de 10% da produção anual da Casa Apis, que em 2024 exportou mil toneladas do produto. Foto: Governo do Piauí/Reprodução

Cinco contêineres com 95 toneladas de mel orgânico produzidas no semiárido piauiense foram liberados para embarque nos Estados Unidos, após recuo de importadores que haviam solicitado a suspensão do envio. A carga, avaliada em R$ 12 milhões, pertence à Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) e havia sido retida dois dias antes, por temor de que o produto chegasse ao território americano após a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre alimentos brasileiros.

A liberação foi obtida na noite de domingo (13) após articulação direta da Casa Apis com os compradores e apoio de entidades do setor. Segundo Sitônio Dantas, presidente da cooperativa, a carga já se encontrava aprovada pelos órgãos fiscalizadores e pronta para embarcar no Porto do Pecém (CE), onde aguardava apenas a confirmação dos clientes.

A suspensão momentânea provocou apreensão entre os pequenos apicultores da região de Picos, Simplício Mendes e Paulistana, base produtiva da Casa Apis, cuja renda depende da exportação de mel. O embarque representa cerca de 10% da produção anual da cooperativa, que em 2024 exportou mil toneladas do produto e planeja repetir esse volume até o fim de 2025.

Cadeia produtiva do mel beneficia mais de 900 famílias

Criada em 2005, a Casa Apis é a principal referência na cadeia produtiva do mel orgânico do Nordeste. Reúne mais de 900 famílias de agricultores familiares organizadas em cinco cooperativas, com atuação em 34 municípios piauienses. A entidade mantém uma planta industrial em Picos, 28 casas de processamento e sistemas de controle certificados internacionalmente, como Orgânico, Fair Trade, True Source Honey e Non-GMO Project.

Além da produção, atua na capacitação técnica e no fortalecimento socioeconômico da apicultura no semiárido. Em anos de safra plena, a produção pode ultrapassar 1.500 toneladas. Toda a produção segue padrões exigidos por mercados externos, com foco na rastreabilidade e sustentabilidade do processo produtivo.

Nova tarifa eleva riscos para exportação

Embora o embarque tenha sido retomado, o setor ainda enfrenta incertezas diante da nova medida do governo dos Estados Unidos, que entrará em vigor em 1º de agosto. A tarifa de 50% sobre alimentos importados ameaça inviabilizar novas exportações de mel, café, suco de laranja e açúcar, setores nos quais o Brasil detém liderança internacional.

Segundo a Casa Apis, uma das alternativas avaliadas é o compartilhamento dos custos com os importadores, mas há receio de quebra de contratos futuros. A cooperativa também considera buscar mercados como Europa e Oriente Médio, mas enfrenta desafios relacionados à certificação, logística e novos canais de distribuição.

Além das barreiras tarifárias, a produção de 2025 deve ser afetada pela seca no semiárido, com projeção de queda de até 40% na colheita, o que amplia os riscos para a sustentabilidade da cadeia apícola na região.

Impacto nacional

Estudo do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro) projeta que o tarifaço pode reduzir em até 75% as exportações agropecuárias para os EUA, com impacto de 0,41 ponto percentual no PIB nacional. Em 2024, as vendas do setor para o mercado americano somaram US$ 12,1 bilhões.

O governo brasileiro já discute alternativas comerciais e poderá acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC). Também está em avaliação a aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica, instrumento que autoriza retaliações tarifárias em caso de medidas unilaterais com impacto direto nas exportações nacionais.

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